Agricultor de Creixomil conta como se faziam antigamente previsões climatéricas
A quadra festiva do Natal e Ano Novo constituía antigamente o período em que os agricultores faziam as suas previsões climatéricas, ficando assim munidos de orientações mais ou menos fidedignas para o árduo trabalho de cultivar a terra e criar os animais.
Em Creixomil, ainda há quem se lembre do tempo em que a actividade agrícola era "guiada pelas têmperas", designação atribuída às previsões feitas consoante as condições climatéricas verificadas entre o dia de Santa Luzia - 13 de Dezembro - e o dia de Natal e depois entre o dia de Natal e o Dia de Reis.
"Toda a gente se guiava por isso", recorda, sorrindo, Domingos Martins, de 86 anos, residente há 83 na Quinta da Honra de Cima, ou melhor dizendo, vizinho do pavilhão multiusos, construído num dos campos que outrora cultivou. "Era fácil ver as têmperas. O tempo que fizesse no dia de Santa Luzia, assim estaria o mês de Janeiro... O dia seguinte - 14 de Fevereiro - correspondia a Fevereiro... E assim seguidamente", continuou a explicar, indicando que "os agricultores trocavam impressões", baseando as suas análises na observação dos sinais da natureza.
"Hoje, na televisão, na rádio e até nos telemóveis... Não faltam previsões do tempo! Mas, olhe que, por vezes, o que dizem os antigos é o mais certo", advertiu, ao lembrar a sabedoria de um antigo criado naquela quinta "que fazia as previsões a sério". "O homem passava a noite de Natal à lareira e lá marcava os 12 casquinhos de cebola, com as correspondentes areias de sal em cada um (Janeiro, era uma areia; Fevereiro, era duas... e assim sucessivamente até Dezembro); e nos meses em que o sal derretesse era o sinal de que iria chover e nos meses em que não derretesse o sal podíamos contar com sol", contou, referindo que o ritual era cumprido todos os anos após a Consoada. "Naquela noite, o criado tinha sempre aquela ocupação, e eram feitas as previsões para todo o ano", prosseguiu, indicando que outros agricultores orientavam-se pela posição da lua igualmente na noite de Natal. "Se a Lua apresentava as costas voltadas para o Norte ou para o Sul. Era muito certo! Porque se a Lua tivesse as costas voltadas para o Norte, tínhamos Inverno", sentenciou, durante a conversa mantida, numa destas manhãs frias de Janeiro, com o brilho no olhar, resplandecendo a imensidão do mar de verdura oriundo do campo que emoldura a sua casa e a eira adjacente, acompanhado pela "Roleta".
Referindo-se aos dias frios que têm caracterizado o início deste ano, Domingos Martins observa: "não prevejo grande chuva para Janeiro, corre um tempo seco, duro... E como diz o ditado antigo: em Janeiro, sobe ao outeiro, se vieres verdejar põe-te a chorar; se vieres terrear, põe-te a cantar”.
Excerto do artigo publicado na íntegra na edição de 9 de Janeiro do jornal O Comércio de Guimarães.