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    Programa «Largo do Toural»: "Queremos uma Escola Hotel aberta à Cidade"

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    A reabilitação da Quinta do Costeado com a execução do projecto da Escola Hotel promete expandir a oferta formativa do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave (IPCA) existente em Guimarães. A obra que exige um investimento do Município de 11 milhões de euros deverá arrancar na próxima primavera.

    A Presidente do IPCA, Maria José Fernandes, foi o convidada deste sábado do programa «Largo do Toural», da Rádio Santiago. A responsável espera que 2022 seja um ano decisivo para a consolidação da Instituição no nosso Concelho com o dinamismo que o projecto de ensino irá introduzir no tecido económico da região.

    Pode ouvir a entrevista na íntegra AQUI

    Reproduz-se o texto publicado na edição de 29 de dezembro de 2021 do jornal O Comércio de Guimarães.

    "Queremos uma Escola Hotel aberta à Cidade"

    O Comércio de Guimarães (CG) - No próximo ano, o IPCA quer reforçar a sua afirmação em Guimarães. Será um ano decisivo para essa ambição?

    Maria José Fernandes - O IPCA tem a sua actividade em plena expansão, com a afirmação e consolidação nestes 27 anos de existência, mas esteve muitos anos apenas centrado no Cávado. Os serviços centrais estão no nosso campus em Barcelos. Felizmente a partir de 2015 instalou-se em Guimarães. O IPCA está a cumprir a sua grande missão que é a de oferecer oferta formativa, investigação e responder às necessidades da região. Também no Vale do Ave. O nosso projecto educativo começou no Avepark com os Cursos Técnico-Superiores Profissionais, onde neste momento temos cerca de 500 estudantes, em diversos cursos de curta duração, de dois anos. E temos um grande projecto que está já em fase avançada de concurso que é a Escola Superior de Hotelaria e Turismo, uma área que vai ser desenvolvida em pleno em Guimarães, num modelo diferenciado, na Quinta do Costeado, em terrenos e infraestruturas cedidas pelo Município, com a reconstrução da casa da quinta para uma Escola-Hotel que vai servir sobretudo para as práticas pedagógicas dos estudantes.
    Neste ano lectivo, o IPCA iniciou uma oferta formativa com o Mestrado de Marketing Turístico que está a funcionar em Guimarães com cerca de 20 estudantes, em instalações com óptimas condições, cedidas pelo Município. E assim vamos avançando com a nossa afirmação no Concelho.

    CG - O foco no turismo e na restauração é a aposta para o alargamento da oferta do IPCA em Guimarães?
    MJF - Era quase uma obrigação, porque a Instituição foi criada em 1994 pelo Governo da altura, em que a figura do Governador Civil de Braga teve um papel importante, porque negociou onde ficaria localizado o IPCA, assumindo desde o momento da sua fundação a ligação ao Cávado e ao Ave. Se olharmos para a realidade dos politécnicos nacionais, o IPCA é o único que não tem na sua designação uma capital de distrito. Entrar no Vale do Ave era uma meta e esse desígnio ainda foi conquistado com o anterior Presidente, o Professor João Carvalho. Em 2017, foi criada a Escola Superior de Hotelaria e Turismo e está a decorrer o concurso para a requalificação da Casa do Costeado.

    CG - Neste novo mapa de oferta de qualificações do IPCA para Guimarães, quais têm sido a aposta da Instituição, nomeadamente com a oferta formativa que existe no Avepark?
    MJF - No Avepark, temos cursos técnico-profissionais, de curta duração, muito alinhados com as necessidades das empresas, a localização representa muito esta ligação ao sector empresarial (grande parte dos cursos são desenhados com as empresas). Pretende ser uma resposta célere às necessidades dos empregadores com uma formação muito prática, o que permite aos estudantes ingressar no mercado de trabalho (o curso é de ano e meio de formação em sala ou prática em empresas e depois um estágio de seis meses) e uma integração dos estudantes no meio empresarial da região onde vão estagiar. Queremos potenciar e até aumentar o número de estudantes, dadas as condições desta zona, já que em Guimarães será construída a ligação directa de Guimarães ao Avepark que está prevista no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência e vai permitir uma maior facilidade de deslocação. Neste momento, o IPCA tem transporte para o Avepark para levar e trazer os seus estudantes.

    CG - De onde são oriundos estes estudantes?
    MJF - Temos muitos estudantes da zona de Guimarães, mas outros residem nos concelhos limítrofes. Esta deslocalização da oferta formativa tem a ver com a proximidade e permite que muitos estudantes possam continuar os seus estudos e trabalhar em simultâneo. Os cursos técnico-profissionais do IPCA têm quase 2.900 estudantes, em que 500 deles estão no Avepark.
    Temos muitos alunos oriundos do ensino profissional, mas também do ensino regular. Este tipo de curso permite um ingresso mais rápido no mercado de trabalho, mas também prosseguir estudos, porque depois continuam a estudar e ingressam nas licenciaturas. O IPCA tem uma oferta formativa muito diversificada em horário pós-laboral porque estes estudantes conseguem trabalhar de dia e prosseguir os seus estudos em regime pós-laboral. Proporciona a formação ao longo da vida, porque também já temos muitas pessoas que procuram estes cursos que já estão a trabalhar e que procuram a melhoria das condições de vida e de trabalho e também temos muitas empresas a incentivar os trabalhadores a melhorar as suas qualificações em regime pós-laboral.

    CG - O IPCA coexiste com a Universidade do Minho nesta região, mas as realidades são distintas ou aproximam-se?
    MJF - Somos parceiros em muitos projectos com a Universidade do Minho e com outras instituições de ensino superior da região, nomeadamente com o Politécnico de Viana do Castelo, do Porto e de Bragança. Com a UMinho trabalhamos muito ao nível da investigação, os nossos centros e investigadores têm projectos comuns. Na oferta formativa, tentamos não colidir com o que a Uminho já oferece. Temos sempre este cuidado com o nosso crescimento. A aposta em Guimarães é na hotelaria e turismo, não faria sentido criar oferta na área de engenharia, porque a Universidade do Minho tem uma escola fortíssima. Vamos colmatar as áreas que não estão desenvolvidas e que fazem falta à região do Vale do Ave e Guimarães.

    CG- A percepção das necessidades do território determinou essa aposta na Hotelaria e Turismo?
    MJF - O desenvolvimento constrói-se com a qualificação das pessoas que vivem numa região e a formação arrasta a investigação e a inovação, a qualidade de vida das pessoas num ecossistema em que têm de fazer parte as empresas e as instituições públicas e privadas que aí actuam. Estamos aqui num espírito de integração num todo, em que o todo é o desenvolvimento do Cávado e do Ave, em colaboração estreita com as outras instituições.

    CG - A Escola-Hotel nasceu num período pré-pandémico. Como surgiu o projecto e como está a ser encarada a nova realidade dado o impacto na hotelaria e turismo?
    MJF- O desejo é que a realidade que se alterou fique estabilizada. O efeito pandémico foi avassalador no turismo, na restauração e na hotelaria, mas este último ano houve uma retoma e todos os indicadores apontam para a continuidade nesse sentido. Os nossos estudantes que estão nos cursos de turismo que estão incubados em Barcelos sentiram algum receio, porque é o futuro deles que está em causa. Esta região é muito apelativa e particularmente Guimarães porque deu passos significativos na sua afirmação: foi Capital Europeia da Cultura em 2012 e obteve a distinção do seu património pela UNESCO em 2001. Sabemos que Guimarães é um destino turístico. A proximidade é uma das marcas distintivas dos politécnicos e estamos em 136 concelhos a nível nacional, com oferta de ensino.
    A escolha de Guimarães tem muito a ver com a sua posição no Vale do Ave, uma cidade turística, que já tem ensino superior, mas não tinha este tipo de oferta formativa. Esta Escola de Hotelaria e Turismo era um braço da Escola de Gestão, a primeira escola do IPCA que desenvolveu um conjunto de áreas no turismo e que nós quisemos depois autonomizar. Queremos que esta escola se desenvolva e se afirme e seja um grande pólo de inovação na região e com certeza assim será. Apontamos para na próxima Primavera estarmos em condições de avançar com a obra e 2023, no limite, ocorrerá a instalação definitiva do IPCA em Guimarães, na Quinta do Costeado.

    CG - A refuncionalização da Quinta do Costeado para a Escola Superior vai permitir a regeneração de um edifício histórico, num envolvimento do IPCA na definição do modelo de ensino inovador?
    MJF - Esta é a grande missão das instituições de ensino, respondendo às necessidades do território, contribuindo para o desenvolvimento e sobretudo para a qualificação das pessoas quer seja a população jovem, quer seja a adulta, e melhorar a qualidade de vida. E apostar e contribuir para o que é a investigação e inovação nestas áreas. Associado ao funcionamento da Escola estarão centros de investigação na área alimentar, há um conjunto de outras valências que serão potenciadas e que serão estruturantes para o nosso projecto e para Guimarães. É um projecto muito arrojado, inovador. Visitamos as melhores escolas de hotelaria e turismo do mundo, fomos a Hong Kong, à Suiça, a Espanha. Visitamos os modelos que são referenciais nesta área e desenvolvemos o nosso projecto educativo. Temos até já aprovado o Curso de Licenciatura em Gestão Hoteleira e no próximo ano lectivo, mesmo em instalações provisórias, teremos que a desenvolver em Guimarães. Daqui a cerca de dois anos contamos estar já nas instalações definitivas, com as melhores condições até para atrair alunos internacionais, permitir mobilidades, acolher investigadores estrangeiros, muito empenhados nas estratégias para esta região.
    O IPCA estará sempre onde for necessário, onde houver colaboração. Nós não temos capacidade, nem podemos ir sem a vontade e percepção de um Município de que o ensino superior, a nossa oferta formativa e o nosso trabalho é importante para a região. Esta visão tem de ser partilhada por todos.

    CG - O projecto da Escola-Hotel representa também um desafio para o IPCA?
    MJF - Guimarães será o único concelho com uma Escola. Estamos em Famalicão, em Esposende, Braga e e em Guimarães no Avepark, com cursos de curta duração, de dois anos, em termos de licenciaturas estamos centrados em Barcelos (16 licenciaturas) e queremos estender esta dimensão a Guimarães, com uma escola que irá oferecer licenciaturas, mestrados, alinhado com o que será a oferta formativa desta escola superior.

    CG - O que se poderá esperar de um modelo projectado para a Quinta do Costeado com essas influências de projectos de renome mundial?

    MJF - A cidade e o território terão oferta formativa na área da hotelaria, do turismo, da restauração, com investigação nesta área. A Escola comporta até um restaurante, porque está previsto que esse estabelecimento seja aberto ao público. O hotel-escola será criado com a recuperação da casa principal da Quinta que terá essa ligação, porque pretendemos que sejam os estudantes a desenvolver as práticas associadas à sua formação em contexto real.
    Em Hong Kong, vi um hotel que funcionava com os serviços prestados pelos estudantes acompanhados pelos seus tutores. Queremos sobretudo uma escola aberta à Cidade. O espaço da Quinta do Costeado é nobre, com muitos jardins. Teremos de potenciar a interação da Cidade com a escola. Um dos lemas que temos no IPCA é que seja um 'espaço sem muros', aberto e que permita a interação permanente entre as pessoas, as empresas, a comunidade e a escola.
    A Escola tem de criar uma imagem de referência, queremos uma escola que faça além da sua oferta de licenciaturas e mestrados, que esteja envolvida em processos de formação contínua, que traga os melhores formadores para formar quem já trabalha, em prol da melhoria da qualidade daquilo que é feito pelas entidades da região. Há uma carência nesta área, embora estejamos a assistir a mudanças.

    CG - Qual é a expectativa para os próximos anos, sendo que será um momento decisivo de afirmação?
    MJF - A nossa ideia é que ao fim de três ou quatro anos de actividade, a Escola tenha mais de 1.200 estudantes regulares, estudantes que se vão movimentar naquela zona e que vão acrescer à região e àquela zona do centro da Cidade, gerando incentivos à economia local. Esta é a ideia para quando a escola estiver em ano cruzeiro. Neste momento, temos já o Mestrado em Marketing Turístico a funcionar e, no próximo ano lectivo, a nossa expectativa e a nossa intenção é que o Curso de Gestão Hoteleira esteja já a funcionar em Guimarães, comecem os alunos de primeiro ano no curso. Como não temos ainda espaços definitivos e os alunos precisam de uma vertente muito prática, com a colaboração dos hotéis e restaurantes da região, vamos estabelecer um conjunto de protocolos que nos permitirão desenvolver estas capacidades nos estudantes. Não tenho dúvidas que este será um projecto de sucesso.

    CG - A Escola Hotel vai fortalecer a oferta formativa no Vale do Ave?
    MJF - A formação é conhecimento e melhoria de condições de vida. O que se ganha com a qualificação das pessoas é inquestionável. Esta oferta dos cursos de curta duração, de dois anos, começou em 2014. Não havia esta formação no ensino superior e a nível nacional há 14 mil estudantes que estão a fazer este tipo de cursos, o IPCA tem quase 2 mil. Se não houvesse este tipo de oferta formativa deslocalizada, a grande maioria destes alunos não estaria no ensino superior. Este trabalho de proximidade das instituições no território é fundamental. Chegamos aqui e sabemos que o indicador melhorou e quase 50 por cento de jovens estão no ensino superior, mas há um número muito significativo de jovens que não prosseguem os estudos. Este é o nosso desafio: conseguirmos que os estudantes que chegam ao 12º ano continuem, quer seja em regime laboral, quer em regime pós-laboral, trazendo a população adulta novamente para a formação ao longo da vida. Nós precisamos que a população adulta que não teve oportunidade no seu devido tempo consiga ter condições e respostas para voltar a estudar.

    Três hectares de terreno
    vocacionados para o ensino

    A execução do projecto de requalificação da Quinta do Costeado, em Creixomil, vai permitir instalar a Escola-Hotel do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave. Abrange uma área de quase três hectares de terreno, integrando a casa senhorial existente e respectivas dependências, estendendo-se à zona envolvente, onde será erguido um novo edifício de construção sustentável, em madeira, e recuperados os jardins, num processo que estenderá a requalificação citadina até à Circular Urbana de Guimarães.
    A Casa do Costeado será reabilitada com técnicas tradicionais, respeitando a salvaguarda do património, e transformada num hotel, onde ficará também uma cozinha e restaurante.
    O novo edifício surgirá nos terrenos adjacentes e destina-se à Escola de Hotelaria do IPCA, destacando-se a pretensão de ser um projecto de construção sustentável, em que predominará a madeira, honrando as técnicas tradicionais que permitiram a elevação do Centro Histórico de Guimarães a Património Cultural da Humanidade.

    Marcações: IPCA, Programa «Largo do Toural» , Maria José Fernandes

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