Curtir Ciência excluído da Rede Ciência Viva: "É uma humilhação para Guimarães", afirma vereador do PSD
A exclusão da Associação «Curtir Ciência» da Rede Nacional de Centros Ciência Viva "é uma humilhação" para Guimarães.
A posição foi assumida pelo vereador do PSD, Ricardo Araújo, após ter conhecimento da alteração da denominação daquele organismo e respectiva mudança nos estatutos, conforme informação constante na agenda de trabalhos da reunião da vereação vimaranense realizada esta terça-feira.
O representante social-democrata recordou a luta pela integração na Rede Nacional, considerando preocupante o facto do equipamento "não ser capaz de cumprir com as condições", pedindo esclarecimentos sobre a situação actual do "Curtir Ciência".
Na reacção, a vice-presidente do Município e presidente daquela associação assinalou que "por razões relacionadas com o espaço e os materiais da exposição, num processo muito complicado o centro foi afastado da Rede Nacional". "Não fazemos parte dessa Rede e tivemos de fazer a alteração de denominação para Associação Curtir Ciência que, neste momento, é da Universidade do Minho e do Município de Guimarães, tendo saído o parceiro que era a Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica. Estamos a repensar! Couros é Património da Humanidade, a Fábrica Âncora é um centro nevrálgico para o património mundial associado à Zona de Couros, tem de ser toda requalificada porque as madeiras estão decadentes e tem problemas muito sérios, mas que obrigam a uma requalificação muito cuidada. Já adquirimos o edifício adjacente para fazer ali um novo espaço", respondeu Adelina Pinto, ao observar que há muitos centros de ciência no País que não fazem parte da Rede Nacional. "Acho que faz sentido que integre a Rede. No Curtir Ciência estamos a trabalhar na divulgação de ciência, em articulação com as escolas e com diversas instituições. Não temos visita porque os módulos ficaram desativados e alguns espaços não merecem confiança", prosseguiu, insistindo que "há um tempo de reflexão porque o alargamento da área classificada como Património Mundial precisa de um centro interpretativo".
Para o vereador do PSD, "o que está em causa não é a mudança do nome", apontando: "o que é relevante é Guimarães deixar de ter o Centro de Ciência Viva integrado na Rede Nacional". "O Centro foi afastado porque não cumpria os critérios mínimos de segurança e de qualidade", frisou Ricardo Araújo, ao manifestar estranheza por volvidos 10 de funcionamento ainda estar a decorrer "um período de reflexão". "O que devia era ter havido a manutenção necessária para poder continuar na Rede Nacional. É gravíssimo, o Município ter investido para integrar a Rede Nacional de Centros Ciência Viva e ao fim de 10 anos sermos excluídos", vincou, indicando que quando levantou a questão em Julho do ano passado foi contactado pela Rede Nacional, com uma "Sra. ao telefone indignada com o que tinha lido com as minhas declarações".
O vereador do PSD afirmou que colocou por escrito as questões à entidade responsável pela Rede Nacional de Centros Ciência Viva e recebeu a resposta assinada por Rosalía Vargas. "À pergunta: quais são os motivos pelos quais o Centro de Ciência Viva foi excluído da Rede Nacional? E a resposta é: os motivos para a exclusão são claros e assentam na deliberação unânime da comissão de acompanhamento da Rede de Centros Ciência Viva", indicando que espelha "a severidade do estado de degradação infraestrutural do espaço, o elevado grau de desactualização de conteúdos, o carácter obsoleto dos módulos expositivos e as graves falhas de funcionamento daquele espaço, criando inclusivamente em determinados espaços situações de falta de segurança”.
À revelação feita por Ricardo Araújo, a vereadora Adelina Pinto disse: "Estivemos 10 anos a ver os pássaros a voar! Desde o início, ficou acordado a aquisição de um espaço para a construção de um novo edifício, maior, para onde seriam transferidos os serviços tendo em conta as limitações que a Fábrica Âncora tinha. Esse espaço só ficou livre em 2022. Tivemos sempre como meta fazer ali um edifício adequado às novas exigências do que é um Centro de Ciência", alegou.
A responsável assinalou que "desde o início, a Rede Nacional percebeu que aquele edifício tinha limitações", ao salvaguardar que "nunca houve questões de segurança". Adelina Pinto sustentou que as questões relacionadas com a adopção o Sistema de Normalização Contabilística para as Administrações Públicas (SNC-AP) "foi o gatilho para algo que já era evidente". "O Curtir Ciência sempre demonstrou ao Ciência Viva que trabalhava bem, com um enorme volume de actividades, num trabalho com as escolas que continua a ser desenvolvido na divulgação de ciência", elucidou, ao realçar que juntamente com um representante da Universidade do Minho esteve reunida com Rosalía Vargas. "Ficou definido que com a construção do novo equipamento o Centro voltaria a ser integrado na Rede Nacional. Seria grave se o Curtir Ciência não estivesse envolvido na atividade de desenvolvimento de ciência. A ciência é uma matriz de desenvolvimento e continuamos empenhados na divulgação de ciência", rematou.
O vereador do PSD argumentou que a justificação apresentada pela vereadora Adelina Pinto "cai por terra, com a leitura do relatório da equipa científica que visitou o Centro Ciência Viva". "No documento refere-se que "um dos factores que mais impressiona um visitante ao centro, é que praticamente todas as salas estão em más condições de funcionamento! Ler isto até dói", frisou, acrescentando: “temos um equipamento que não honra Guimarães e e não vale a pena fazer de conta que não há este problema".
O Presidente da Câmara observou que a Agência Nacional "fez sempre parte do centro de Guimarães, durante estes 10 anos", questionando: "porque é que esse parceiro em vez de fazer contributos como faz em Lisboa e no Porto por que é que não fez contributos para a atualização dos equipamentos? Era aí que esperávamos esse papel fundamental da Rede Nacional! Porque é que não deu esses contributos? Só mandou uma fiscalização! Sabemos desde o início que a Fábrica Âncora não é apropriada para os pavilhões Ciência Viva. O cerne da questão foi o atraso na construção de um novo pavilhão! Quanto à actualização dos equipamentos de ciência, a primeira grande responsabilidade é da Rede Nacional que tinha de dar contributos decisivos para isso", manifestou Domingos Bragança.
De seguida, Adelina Pinto sustentou que o relatório elaborado pela equipa "teve um contraditório, em que foi assumido que muitos dos equipamentos estavam obsoletos e não se justificava novas aquisições tendo em conta que seriam substituídos no novo espaço que será construído". "Um centro de ciência é um espaço de ciência onde se faz ciência e pode ir ao Curtir Ciência e verificar que esse trabalho está a ser feito. Há um contraditório enorme a esse relatório que foi mal feito e aquilo que é dito não corresponde à verdade", sustentou a vereador.
O Presidente da Câmara instou a responsável a tornar público também o documento com "o conteúdo contraditório" ao Relatório que determinou a exclusão do Curtir Ciência da Rede Nacional de Centros Ciência Viva.