Alternativas

Houve?
Houveram!


Na fim da década de 70 do século passado, o concelho de Guimarães era o quarto a norte do Douro em população atrás do Porto, Matosinhos e Gondomar (censo de 1981). E a cidade de Braga, muito beneficiada na era Santos da Cunha (estádio, rodovia, avenida Central, etc., etc.), em termos urbanos, pouco se diferençava da cidade de Guimarães; embora e anos volvidos de vigência de Constituição da República, continuasse a acolher serviços governamentais descentralizados, malgrado a figura do Distrito não caber na orgânica constitucional ... não existir nela.

Depois, Guimarães situa-se na bacia hidrográfica do Ave, que tem a sua foz em Vila do Conde e cujo além rio nesse último tramo são as terras maiatas, o Porto. A linha férrea reconheceu e atem-se a essa afinidade que, durante séculos, foi a de uma natural ligação. Aliás, no trabalho de ordenamento que a Comissão de Planeamento Regional do Norte encomendou ao arquitecto escocês Percy Johnson-Marshall (em que colaborou o Prof. Costa Lobo, avisado técnico que, anos volvidos, foi consultor da CMG durante algum tempo), trabalho concluído em 1975 (Plano da Região do Porto), ele, esse Plano, estendia-se até Guimarães. E compreende-se essa conexão por, repete-se, ser a topograficamente natural. Só que a CCRN, nos tempos de Valente de Oliveira e consoante as suas Linhas de Estratégia postas a circular, editadas, entre fins dos anos 70, princípios do 80, definiram outra estratégia: a da contenção de Guimarães, crescimento de Braga e de um polo urbano situado na zona de Penafiel. Estratégia que, inclusivamente, deu força à concentração da UM em Braga. E não só. E tudo como sempre, muito democraticamente e ficando-se pelo acanhado dos gabinetes do poder, no afastamento, ou será nas costas, do cidadão. Como aliás o PROT-NORTE.
Mas adiante.

Entretanto e nesse já recuado tempo de efectiva implementação de o poder autárquico municipal, sem ainda, num primeiro momento, leis próprias que o estatuíssem e dotassem, tentou avançar-se para um modelo de ordenamento concelhio que fizesse sentido; que, inclusivamente, constituísse um instrumento permissivo de gestão, mormente da citadina que, esta e até então, estava dependente dum primeiro parecer dum consultor externo e, sempre e a seguir, da já CCRN. Por tudo isso se partiu para o Plano Geral de Urbanização da cidade.
Há porém que atentar mais detalhadamente nas razões dessa partida: o porquê, nesse tempo, dessa opção.
Assim e no quase vazio (atraso) legislativo que o país atravessava (recorde-se que RGEU é de 1951 e, por exemplo, o Town and Country Planning Act, é de 1947), o que se engendrou, muito pela influência do engenheiro e paisagista Ilídio Araújo, foi uma ordenação faseada; primeiro na cidade, depois Vizela e Taipas, a seguir e provavelmente S. Torcato e, posteriormente, as mais complexas e não definidas, de Ronfe/Vermil/Joane e Serzedelo/Riba d’Ave ou Lordelo/Vila das Aves. Mais problemática era ainda a de Serzedo/Jugueiros. Ou seja um hexágono centrado no polo citadino com seis secundários, mais ou menos desenvolvidos, em zonas circundantes. Numa perspectiva, de certa maneira e ainda que com outros contornos, afim dos considerandos da cidade jardim (Ebenezer Howard).

Neste enunciado propósito será de realçar que, desde os primeiros vagidos, a concepção esteve sempre conotada com a área metropolitana do Porto e por isso dependente de: a)- uma ligação ferroviária moderna (nem sequer se pensava numa linha de alta velocidade) nos menos de 20 Km que distam do sudoeste do concelho à Trofa e que, assim, consentisse viagens rápidas nos dois sentidos ; e b)- a atractividade da cidade através duma qualidade habitacional elevada, de um amplo leque e níveis de serviços permissivos, nesse conjunto, duma vivência urbana ambientalmente saudável, gregária, humanizada, agradável e de efectivo bem estar. O que levou a pensar que, para a sustentabilidade dessa atractividade, a cidade poderia vir a atingir a dimensão de uma urbe média europeia; os tais 100.000 habitantes, como consta dum programa municipal de então.
Mas regressemos ao PGU.

Como atrás se referiu e numa época em que já acontecia uma forte pressão construtiva (ademais, progressivamente acentuada pelas remessas dos emigrantes), a falta de referências que facultassem critérios objectivos de gestão impunha a rápida definição de modelos que, com a maior brevidade, introduzissem cânones provisórios susceptívieis de alguma racionalidade. E com este propósito, como acima dito, começou-se pelo princípio, pela cidade. E ainda na elaboração do PGU, que foi desde os seus primeiros passos zonado, foram feitos concursos para Planos de Pormenor de algumas zonas que se consideravam prementes, fossem de expansão, fossem de regularização. Feitos, adjudicados e elaborados. Num caminho que envolveu, de certa maneira, a Escola Superior de Belas Artes do Porto e que muito deveu à equipa que coordenou todo o processo: os arquitectos Fernando Távora e Alfredo Matos Ferreira. Aliás, tempos depois, com o primeiro chegou a pensar-se num seminário que versaria a tipologia da casa de que Guimarães careceria e que mais favoreceria aquela desejada atractividade.

Note-se que Fernando Távora desde o início conhecia a concepção idealizada da cidade e dos polos secundários, que apoiou e que muito o motivou ao aceitar o encargo do PGU, por poder pegar no existente e conseguir erguê-lo a um centro urbano de escala europeia com um território ordenado.
Por aqui ficamos ...
E o depois?
Depois é o que está por aí ...
Com TINA?
Não! ... que há sempre alternativas.

Fundevila, 24 de Dezembro de 2022


terça, 03 janeiro 2023 18:18 em Opinião

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