Novos Vimaranenses



Curioso como, em tempos de pleno gozo de reforma, ainda sinto um prazer especial nos fins de semana. Na realidade, desde que me reformei, tenho a consciência de

que posso fazer de cada dia o dia que eu quiser, assim como quando se diz “Natal é quando um homem quiser”, esclarecendo desde já que tenho a consciência de que, na frase, antiga e popularizada por Paulo de Carvalho no seu álbum MPCC, a palavra homem não tem a carga de género que atualmente lhe anda associada, significando, sim, pessoa, seja qual for o seu género.
Na verdade, ainda que desfrute completamente de cada um dos dias que a natureza me concede, desde o ano que antecedeu a pandemia e após o levantamento da restrição de normal frequência de bares e restaurantes, a sexta-feira ao fim da tarde tem-se-me revelado de particular satisfação.

É quando rumo à Rua Nova, uma das que tem vindo a tornar-se mais apetecível pelo restauro das suas vetustas casas, tanto para uso habitacional, permanente ou ocasional de moradores e de visitantes, como para estabelecimentos de restauração, de comércio e de serviços, sendo atualmente uma rua procurada para residência, sobretudo por jovens adultos.
Vem a este propósito referir que o nome oficial da via é rua Egas Moniz, mas não conheço quem não se lhe refira pelo nome de antanho, Rua Nova, o que me lembrou, como já vi em terras de antiga e abundante frequência turística, que em necessário restauro da menção toponímica nas ruas da cidade, em todos os seus acessos seja colocada placa com o respetivo nome e, quando de pessoas, menção breve do que foram, datas do seu nascimento e morte, e, se de pessoa que existiu há séculos, o século em que existiu, sendo igualmente mencionado o nome antigo da rua em causa.

Assim tenho visto em várias cidades e, entre nós, conheço apenas o exemplo da placa identificadora da rua Dr Roberto de Carvalho, que liga a praça da Mumadona à Alameda Prof. Abel Salazar, placa aquela em que consta, sob o nome do cidadão, a menção médico radiologista. Assim se fica a saber que àquela rua foi atribuído o nome de alguém que se notabilizou na sua profissão e que através dela honrou a comunidade vimaranense, o que foi correspondido com a sua inclusão na toponímia urbana.
São inúmeras as ruas do centro histórico intra e extra muros que, a meu ver, merecem a menção, a par dos seus atuais nomes, os de antanho, tais como a Rua de Santa Luzia, a Rua Escura, a Rua da Tulha, a rua da Srª da Guia, e, entre outras mais, a rua, também chamada de largo do Ourado, este agora oficialmente Rua do Retiro, esta, como algumas mais, outrora tidas como de má fama por razões que ainda hoje são evocadas ou subentendidas quando são nomeadas.

Hoje, porém, é visível a sua transformação em artérias apetecíveis, e apetecidas, zonas de atração para turistas e, o que mais me alegra, para incontável número de vimaranenses, que as enchem de movimento e cosmopolitismo, desfrutando do convívio proporcionado tanto pelos estabelecimentos a ele adequados, como da acolhedora malha urbana que constitui o nosso atraente, elogiado e premiado centro histórico, cujo maior prémio é precisamente o da atração que exerce sobre os seus moradores, usufruidores e vimaranenses em geral.
Vimaranenses de sempre e vários que mais ou menos recentemente como tal se tornaram, nomeadamente uma extensa comunidade anglófona com que tenho vindo a contactar, pessoas vindas desde a Austrália até ao Estados Unidos da Améria, passando pela Escócia, Irlanda, Inglaterra, País de Gales, que decidiram sair dos seus países e, após prospeção em várias cidades europeias, decidiram escolher Guimarães para viver. Cheguei até eles precisamente em virtude da frequência de um simpático bar de vinhos na Rua Nova, onde conheci uma alegre e comunicadora cidadã estadunidense mas já vimaranense de coração, ceramista com ateliê posto no Largo do Ourado, o qual passei a frequentar iniciando-me no afago e moldagem do barro, ao qual estão permanentemente a afluir os ditos novos vimaranenses de díspares nacionalidades e onde, curiosamente, param inúmeros turistas, nacionais e estrangeiros, que, atraídos pelas estreitas e históricas artérias do coração da cidade, ali aparecem a colher informações não oficiais sobre Guimarães.

Os que decidiram aqui assentar vida fizeram-se em virtude, assim me disseram, das características gerais do país e do povo português e, especialmente, da beleza de Guimarães, mais particularmente ainda pela simpatia dos vimaranenses e enorme afeto deles pela sua terra, de um modo que não detetaram em nenhuma outra.
Ainda há dias, como vizinhos de mesa num restaurante do largo da Oliveira tive um casal, ele alemão e ela peruana, falantes de castelhano, até agora residentes nas Baleares, concretamente na ilha de Menorca, que entabularam conversa comigo e com a minha mulher e após rasgados elogios à cidade, esclareceram que, pretendendo sair da ilha em que viviam, depois de viagem por vários países decidiram que Portugal, e concretamente Guimarães, correspondem àquilo que idealizavam para viverem. Já têm casa, que estão a mobilar, e pretendem aprender a falar corretamente o português, para melhor se integrarem na nossa comunidade. Isto da atração que Guimarães exerce, uma coisa é ouvir dizer, outra muito diferente e desvanecedora é senti-lo concretamente.

Guimarães, 27 de setembro de 2022

António Mota-Prego
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