S. Bento, padroeiro das Europa



Hoje dia 11 de Julho, em que escrevo o presente artigo, celebra a igreja católica a festa de São Bento, designado padroeiro da Europa

no ano de 1964 pelo Papa Paulo VI.

De entre as várias celebrações hoje ocorridas na nossa diocese, merece especial destaque a promovida pela Irmandade de São Bento da Porta Aberta, na qual tive o privilégio de participar acompanhado dos meus netos, e que teve missa solene seguida de procissão presidida por sua excelência reverendíssima D. Ivo Scapolo, núncio apostólico em Portugal, acompanhado pelo arcebispo de Braga D. José Cordeiro, pelo bispo auxiliar da D. Nuno Almeida e por vários sacerdotes.

A devoção ao S. Bentinho da Porta Aberta está fortemente enraizada no seio da população da nossa região, sendo bem visíveis, ao fim de semana, inúmeros grupos de peregrinos que caminham a pé durante a noite, percorrendo por vezes mais de cinco dezenas de quilómetros, atravessando montes e vales, chegando às primeiras horas da manhã ao Santuário, fisicamente estafados, mas espiritualmente muito robustecidos.

Vem esta festa, após um mês de Junho, mês do solstício de verão, rico em festas populares celebradas um pouco por todo o lado, neste ano com mais entusiasmo depois de dois anos de pandemia. Santo António, no dia 13, festejado com grande dimensão na cidade de Lisboa de onde é natural e padroeiro; São João, no dia 24, celebrado de modo especial nas cidades de Braga e Porto; S. Pedro, no dia 29, celebrado na nossa linda Vila das Taipas e de modo muito intenso e bairrista na cidade da Póvoa de Varzim.

Bento de Núrcia, nascido por volta do ano 480 d.C. no seio de uma família nobre, depois de uma vida atribulada no meio estudantil e social de Roma, recolheu-se durante três anos a uma vida de isolamento numa Gruta em Subiaco, imitando Santo Antão, o pai dos monges, o eremita egípcio nascido por volta do ano 250 d. C. que, refugiado no deserto, encontrou as condições para uma vida ascética e de profunda espiritualidade alcançada com base na oração e na renúncia aos prazeres mundanos. Tal gruta em Subiaco, local bem merecedor de uma demorada visita, onde se sente as pedras a falar, haver-se-ia de transformar no centro espiritual dos beneditinos.

S. Bento nasce praticamente aquando da queda do Império Romano em 476, com a deposição do imperador Rômulo Augusto pelos invasores bárbaros, vivendo esses tempos de declínio de poder e de valores do império Romano.

Transformou a vida dos monges, que até aí viviam sozinhos, isolados como eremitas, para passarem a viver organizados em mosteiros, segundo a famosa “Regra”, assente no princípio “Ora et Labora”, conjunto de normas definidoras da vida em comum que seria depois também usada pela generalidade das ordens religiosas.

Por sua iniciativa rapidamente proliferaram os mosteiros por toda a europa, albergando monges e estudiosos que transportaram ao longo dos séculos os conhecimentos das civilizações antigas, nomeadamente Grega e Romana.

As legiões romanas que outrora percorriam e dominavam toda a europa, eram então substituídas pelos mosteiros, cujos monges, com base na força da fé e dos seus conhecimentos, iam conquistando o coração e as mentes das populações semeando e cimentando um conjunto de valores alicerçados na Lei do Evangelho e na Ética do Sermão da Montanha (Bem Aventuranças), populações para quem o homicídio era até aí a mais honrosa das actividades e a vingança um sinónimo de justiça.

À volta desses mosteiros e com base no conhecimento dos monges, desde as letras às ciências, iam proliferando novas actividades desenvolvidas com base em novas técnicas, dinamizando outras formas de produção junto das populações, nomeadamente a agrícola, a que se seguia o aparecimento das catedrais à sombra das quais surgiam as universidades que albergavam os filhos das famílias nobres da época, formatando assim as gerações com base nos valores do Cristianismo alicerçados, sobretudo, no amor ao próximo, ainda hoje presente na generalidade dos países ocidentais.

Podemos, assim, hoje, bem dizer que o desenvolvimento social, económico e cultural do mundo ocidental muito deve a estes dedicados e consagrados servidores da humanidade.

Bendito seja o glorioso S. Bento.

Guimarães, 11 de Julho de 2022
António Monteiro de Castro

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